quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Eu entrei em Artes e me deparei com a Arte : Parte III


Diante desse tumulto todo que foi a entrada da arte-educação na minha vida, eu entrei em depressão. Entrei em depressão e fui parar na psiquiatra. Não me importo em dizer, de longe foi uma das melhores coisas que me aconteceu. No início eu tive que tomar um remédio, mas de acordo com a evolução do tratamento, eu pude eliminar o remédio e ficar só com a terapia.
Nesse espaço de tempo comecei a procurar coisas que eu realmente gostava da fazer e redescobri meu gosto pelo desenho. Encontrei um site de rede social especializado na divulgação de arte/artesanato em geral chamado DeviantArt (DA). Frequentando ele, descobri que existiam muitas pessoas que eu julgava ter um nível de desenho abaixo do meu, expunham seus trabalhos e muitas pessoas adicionavam esses trabalhos como “favoritos” e comentavam.
Por conta disso, resolvi criar um perfil e adicionar os meus desenhos, ganhei alguns comentários e fiquei feliz, comprei uma mesa digitalizadora, fiz mais desenhos e ganhei mais alguns “seguidores” e isso foi me estimulando a desenhar melhor. Procurei tutoriais na internet em forma de imagens, vídeos e etc. Procurei estilos de desenhistas para referência no próprio DA e fui devagarinho me aperfeiçoando.
Devo admitir porém que não busquei me aperfeiçoar em desenho com base no que eu aprendi e estava aprendendo na disciplina de desenho na universidade. Acredito que isso não tenha acontecido por dois motivos. O primeiro é que em geral eu tenho muita dificuldade em absorver os conteúdos explicados em disciplinas, quando as coisas são obrigatórias elas perdem a graça e eu acabo por fazê-las só por obrigação. Uma vez que desenho é uma disciplina obrigatória e eu tinha que concluí-la isso fez com que aquilo se tornasse chato e feito somente por obrigação, sendo assim eu não consegui permitir absorver os aprendizados, fazia só por fazer.
O segundo fato é que essa dificuldade de absorção de conteúdos diante de coisas obrigatórias agravou depois de um episódio de desentendimento entre eu e o professor que lecionava a disciplina de Desenho I, no primeiro semestre do curso. Em sua segunda aula, ele pediu que todos os alunos fizessem um desenho livre (creio que para avaliar os conhecimentos na área que a turma em geral possuía). Eu fiz um desenho qualquer (homens em um castelo atirando fechas e lanças em um dragão voador que soltava chamas) com uma qualidade técnica bem péssima, (alguns homens eram até de palitinho) mas o que eu queria passar com aquele desenho é que em geral meu conhecimento de desenho era baixo ou nulo.
Passando pelo meu desenho o professor olhou e disse que estava ruim, que era pra eu jogar fora (sim, jogar fora no lixo) e fazer um novo. Não lembro se fiz, mas se fiz foi muito a contra gosto, porque não consegui entender bem como um desenho livre poderia estar errado. Em outra aula, ele pediu que trouxéssemos um desenho de natureza. Sinceramente não lembro que desenho que eu fiz, mas dessa vez tentei me empenhar mais para que ele não quisesse jogar meu desenho fora. Esse professor fazia questão de passar de desenho em desenho com a turma toda reunida em volta dele para dar seu aval. Quando finalmente chegou ao meu, ele olhou e não fez críticas sobre as técnicas como vinha fazendo com os outros, simplesmente tirou do bolso da blusa um cartão vermelho (desses de juiz de futebol) e disse: “para o seu desenho, cartão vermelho!” e levantando o cartão em minha direção deu uma grande e sonora gargalhada, que fez com que a turma toda se juntasse a ele.
Não bastando esse último episódio constrangedor, ainda existiu outra aula em ele pediu que fizéssemos em casa um desenho utilizando a técnica de aquarela. Ele não ensinou nada sobre aquarela, e quando eu cheguei na aula com meu desenho, ele disse que estava errado e não era assim que era utilizada a aquarela. Ainda tentei perguntar como era feita a utilização dessa técnica, mas fui completamente ignorada. Não conseguindo compreender qual era o real propósito daquela aula e como o professor julgava os trabalhos, desisti da disciplina.
Aqui posso fazer de novo um link com o que estava discutindo em arte-educação ali em cima. Para todas as disciplinas da universidade existe uma ementa, e ementas servem para serem seguidas. A ementa das disciplinas de desenho foi pensada para todos os tipos de alunos que ingressam nesse curso de artes. Na universidade na qual me encontro, não existe prova de habilidades artísticas, nem em desenho e nem em qualquer outra disciplina de aprendizado técnico. Sendo assim, não se pode julgar errado em questão de conhecimento técnico um desenho que foi considerado de cunho livre. Também não se pode julgar errado o uso da técnica aquarela sendo que não foi previamente ensinada. Aliás, aquarela nem está não está na ementa de Desenho I.
O que aconteceu foi que, logo no meu primeiro período do curso de artes, me deparei com um professor, do qual não apresentou a ementa, não apresentou cronograma de aulas e principalmente não seguiu (nem de longe) o que era proposto na ementa. Levou em conta o talento (talento aqui vai tanto para os que dotavam de conhecimento técnico quanto para os que não o tinham, mas tinham potencial e/ou sabiam utilizar desses conhecimentos mesmo não os tendo estudado) de alguns, desprezou os outros, passou os “queridinhos” com notas altas e os não eram com notas 5,0.
Enfim, apesar desses acontecimentos terem de alguma forma bloqueado meu desejo de desenhar por um período de tempo, logo que entrei para a terapia e encontrei o DeviantArt eu consegui supera-lo e hoje gosto muito de desenhar e quero aprender cada vez mais.
Dentro dos meus desenhos e dos desenhos que tomei como referência, encontrei a ilustração. Porém a ilustração é o que eu denominei no começo do texto de arte-não-arte. Ilustração não é artesanato e também não é arte (apesar de eu achar que sim, é arte). O problema todo da arte é que quando houve o rompimento para a arte contemporânea, passou a existir uma aversão a tudo que ficou pra trás do rompimento. Toda produção artística daquela época, continuou sendo considerado arte, porém não se podia mais utilizar daqueles daquele mesmo pensamento para criar arte contemporânea. Sim, eu compreendo o rumo da história da arte e a necessidade do rompimento, eu também compreendo a aversão. A arte “evoluiu” passou de ser só técnica para ser pensamento.
O que eu entendo, porém, é que o tempo em que se deu o rompimento, também já passou, e hoje a necessidade talvez seja outra. Eu não consigo ver hoje, a arte só como pensamento. Eu acredito numa arte em que a mensagem a ser passada é a mesma para todos que apreciam. A professora da disciplina de  “Arte não Escolar” escolar estava criticando em uma aula dela uma das fases do artista brasileiro Artur Barrio, dizendo que achava que em suas obras chamadas “Trouxas Ensaquentadas” (em que numa época de ditadura brasileira ele cria trouxas feitas de saco de farinha contendo sangue e várias outra coisas consideradas nojentas e espalha pela cidade do Rio de Janeiro) o artista teve uma fase ruim pois em geral não considerava as trouxas como obra de arte já que a mensagem que ele quis passar com elas era muito clara e todo mundo entendia, ou se não entendia, ao menos compartilhava  do mesmo sentimento de horror que elas causavam.
Então, quer dizer que só porque não há uma multiplicidade de questionamentos e sentimentos diante de uma obra, ela deixa de ser arte? É por isso que ilustração não é arte? Porque exige técnica e porque a mensagem que você quer passar é muito clara? Será que não vamos superar isso? Acho tão complicada essa parte, do ser ou não ser arte.
Engraçado como os papeis foram trocados né? Antigamente ser o detentor da técnica e fazer reproduções realistas era arte, e só quem podia ter eram pessoas da elite. E agora o que é válido é somente o pensamento, e só consegue compreender esse pensamento quem é da elite. Que coisa...
Estou eu aqui, agarrada numa é arte-não-arte, porque não cabe no universo da arte mas também não cabe no artesanato. É o pior é que é assim para todas as artes manuais das quais eu me interessei. Fotografia por exemplo, se você não tiver o olhar artístico (o que em fotografia complica mais ainda, o julgamento) não conta, foto por foto todo mundo tira. Em cerâmica também, em serigrafia também.  Em que espaço que eu estou?
Eu sinceramente não quero me considerar artista, não ainda. Não quero vestir essa manta de que tenho um quê de que ninguém consegue entender. Quero me fazer entender por tudo que eu fizer e algum dia, eu fizer algo para considerar obra de arte, eu quero que entendam da mesma forma que eu entendi. É minha arte, e daí? Eu tenho o direito de querer explica-la, eu tenho o direito de querer que todo mundo entenda de uma maneira só, e não, eu não concordo que isso resultará na perda da sua essência. Eu não me canso de olhar algumas ilustrações e me perder nos detalhes que saíram da mente daquela pessoa, de me encantar, de passar horas pensando sobre aquilo, mesmo entendendo a mensagem que quis ser passada.
Existe um artigo do Thierry De Duve que eu li chamado Quando a forma se transformou em atitude – e além, que fala justamente sobre essa passagem do rompimento da arte antiga para a contemporânea e como a academia ficou diante disso tudo. Ele não tem uma conclusão no final do artigo, mas é interessante pra gente pensar. Creio que isso justifique um pouco o pensamento de alguns professores como esse que lecionou desenho no meu primeiro período.
Muitos ainda estão agarrados lá no rompimento, e acreditam que técnica não é mais arte e inibe o pensamento criativo de casa um. Mas veja, se você detém o conhecimento, pode fazer inúmeras coisas com ele, e se você não o tiver, aí sim vai ficar podado. Conhecimento nunca vai impedir a criatividade, conhecimento caminha junto com a criatividade, quanto mais aprendemos, mais aumentamos nossa visão. E como eu já disse também, passar o conhecimento técnico não significa que está eliminando outras possibilidades.
Eu tive professores magníficos em outras disciplinas e até mesmo em desenho, que souberam passar a técnica como era prevista na ementa e ao mesmo tempo souberam apresentar como elas foram utilizadas na arte contemporânea. Acredito também que da parte dos alunos é interessante saber filtrar, temos que entender que entramos na universidade para aprender o que for que estiver lá, para fazer os exercícios propostos, e se não for do nosso interesse é só não utilizarmos mais em nossos trabalhos pessoais. Claro que não é pra ficarmos cegos e não criticar as coisas, nada cresce se continuar do mesmo jeito pra sempre, mas cabe a nós (e também aos professores) ponderar um pouco antes de julgar e/ou criticar a proposta de ensino.
Por fim, depois de tudo que passei, posso dizer que ainda me sinto um pouco perdida, ainda não sei se me encaixei na arte da maneira como ela é vista hoje, e de novo eu digo: eu entrei para Artes e me deparei com a Arte (e fiquei perdida: Parte III).  Não sei se o que faço com as ilustrações é arte, mas penso que se não for também, não tem problema. O importante é que no fim depois de tantos desapontamentos eu descobri que gosto de desenhar e gosto bastante de artesanato em geral também. Sim, artesanato mesmo, pintar caixinhas, encapar e costurar cadernos dentre outras mil outras possibilidades do artesanato.
Eu amo muito tudo que é manual e tudo que requer técnica. Todos os testes vocacionais que já fiz até hoje, nenhum deles foi voltado para a área de humanas, e muito menos para artes. Chega a ser engraçado né? Minha mente é um tanto lógica, e é por isso que eu gosto das coisas certinhas e com sentido. Hehehe. De fato eu não gosto muito de arte erudita, na verdade, não que eu não goste, eu acho bacana muitas das exposições, eu só não gosto de ficar lá, horas tentando entender do que se trata aquilo tudo e não gosto muito de como funciona os espaços expositivos.
Às vezes eu tenho uma revolta enorme contra essas coisas todas que discuti aqui no texto e quero vestir a camisa e lutar por todas essas causas que acredito, mas por outro lado é muita briga pra ser comprada e talvez eu prefira fazer ilustrações e artesanatos e ser feliz. (:
É um pouco triste, eu sei. Afinal, se as pessoas não se mobilizarem para fazer valer o que elas pensam nada vai pra frente. Mas essa luta me parece muito árdua e meu objetivo de vida por enquanto é ser feliz. Acaba que isso se volta um pouco pro meu Trabalho de Conclusão de Curso. Às vezes eu queria fazer algo simples, só pra formar, já foi um vai e volta nessa área de artes e às vezes eu quero abraçar o mundo e discutir minunciosamente cada tópico que me aflige.
Bom, acho que é isso. Provavelmente ficou faltando coisa, já que o universo da arte é enorme e meus pensamentos também. Mas por fim, quase no fim do curso eu consegui por metade dos pensamentos em ordem. Estou feliz por isso, por muito tempo eu adio escrever um texto voltado para isso.
Antes de ir, devo de dizer que acredito que talvez, alguns dos meus questionamentos podem ser por falta de maturidade no assunto, ou maturidade pessoal. Mas que mesmo se forem, são válidos para o momento em que vivo agora.
Outra coisa que é uma grande falha minha, é que eu não procuro textos sobre nada disso para basear meus argumentos. Mas sabe, eu creio que se eu não os procuro é porque não me interesso tanto e isso ajuda na hora de eu não querer comprar briga. Em geral, eu costumo pesquisar as coisas que me interessam, do contrário hoje meu desenho continuaria no mesmo nível de quando comecei.
Enfim, no dia que existir uma Parte IV desse texto eu tentarei escrevê-la, talvez daqui até final do curso mais coisas possam ser compreendidas, né não? Mas por enquanto, fiquem com esses poucos parágrafos aí.  Fim da parte III.


 inté mais ver! (:






Eu entrei em Artes e me deparei com a Arte : Parte II


 Bom, quando eu estava no meio desse embate (ler post passado), chega com um solavanco, a educação. Digo que chega como um choque, pois antes mesmo de eu ter encarado a minha primeira disciplina de licenciatura e iniciado calmamente a minha apresentação a arte-educação, eu decidi ser professora de ensino fundamental em um colégio do Estado.
Foi uma experiência ruim, muito ruim. Entrei para dar aula no começo do ano letivo (fevereiro) para 5 turmas, de 6º ao 9º ano. 5 horas de aula e 3 de planejamento. Não sei se é válido escrever toda a experiência passo por passo, sendo assim ressaltarei só alguns pontos.
Foi uma experiência péssima por vários motivos, um deles é que o colégio em si era problemático e não só eu, mas todos os professores tinham problemas com aquelas turmas que eu lecionava.
Segundo porque como eu não tinha me deparado com nenhuma disciplina pedagógica, e eu fui jogada dentro de uma sala de aula sem nenhuma preparação, eu não fazia ideia de por onde começar. Sabia que sim que tinha que começar procurando por algum planejamento, e descobri que o tal se chama PPP (Projeto Político Pedagógico). Descobrindo então que não existia tal item no colégio fui atrás do PCN (Parâmetro Curricular Nacional).
Encontrei o PCN do Estado para área de artes, que ficava num computador chumbrega que mal funcionava na sala dos professores. Por alguns segundos me senti salva e logo depois que li me senti perdida. O PCN era um guia de nada, basicamente tudo que eu li dizia: ensine tudo o que a arte pode permitir, da maneira que melhor lhe convir.
Tentei procurar por livros didáticos de Artes e apostilas de ensino particular, mas não funcionaram para a turma. Tentei começar só pela história da arte, tentei trabalhar em cima de um projeto, tentei passar só exercícios, tentei um tanto de coisas e nada funcionou. Não procurei por livros complementares sobre o ensino da arte em geral, talvez esse tenha sido meu erro, mas foi tanta decepção que no fim comecei a não me importar mais, só ficava ali, gritando e tentando controlar todo mundo.
Comecei a questionar se eu realmente estava interessada em dar aula, se eu me importava com o interesse dos alunos em arte, se eu queria realmente fazê-los entender e se eu realmente queria comprar aquela briga louca contra como está a educação, principalmente a pública onde eu me encontrava. A resposta que obtive foi um sonoro não. Era muita briga pra comprar, era muito esforço da minha parte em tentar enfiar um conhecimento de arte em gente desinteressada. Ainda mais um conhecimento que eu julgava nem eu mesma entender direito, um conhecimento que eu não via qual ligação tinha com aquele ambiente (Aqui vai remeter um pouco aquela história toda de arte elitista).
Enfim, entrei em depressão (mesmo) e comecei a me questionar se eu queria mesmo continuar no curso de artes e me formar professora. E não, eu não queria ser professora. E eu também não me via artista, não entendia como pensavam e sinceramente não queria ser. Não gostava de artes, não ia ao museu, não gostava de leitura de obras, não tinha habilidades artísticas, não tinha habilidades manuais e por fim odiava com toda a força dar aula. E então, o que mesmo que eu estava fazendo no curso de artes?
Bom, um semestre depois que larguei as aulas (fiquei 7 meses), iniciaram as matérias de licenciatura, começando com Fundamentos da Arte na Educação (FUAED). Eu sinceramente me matriculei só por obrigação, porque a vontade mesmo que eu tinha era cair fora. Não cai por motivos pessoais e porque eu não tinha mais nenhum outro caminho disponível pra minha vida se não continuar. Por sorte, a professora de FUAED foi excelente, muito boa mesmo e eu consegui ficar com alguns ensinamentos. Mas em geral, tudo que tinha ligação direta com a arte-educação foi em partes eliminado pelo meu cérebro.
Foi só quando eu cursei a matéria de Prática do Ensino da Arte no Ensino Fundamental que consegui entender o porquê do PCN ser do jeito que é, foi quando eu conheci através de textos, a digníssima Ana Mae Barbosa, grande arte-educadora, muito renomada, que contribuiu em grande parte para a mudança do ensino da arte do Brasil e que foi senhora criadora da famosa Abordagem Triangular.
Entendi sim, que o PCN era como era porque era baseado na Abordagem Triangular, mas não entendia o porquê a Abordagem Triangular ser tão amada por todos, sendo que diante da experiência que tive, ela não funcionava. Vi-me novamente perdida diante dessa abordagem da qual dizia que o ensino de artes era baseado em três pilares: o fazer artístico, a análise de obras e objetos de arte e a história da arte. Não entendia como eu ia conseguir condensar isso tudo nas aulas e ainda mais interligando um no outro.
Fui capaz de compreender, lendo sobre os caminhos do ensino da arte no Brasil o porquê do surgimento dessa proposta. No início só existia o ensino da técnica, depois com o acontecimento da Escolinha de Arte, ficou tudo livre, muito livre (e ainda assim voltado para a técnica, mas não mais de um modo engessado), e por fim, por se sentirem perdidamente livres e por não conseguirem nenhum resultado com isso, os educadores foram criando livros ou apostilas para se basear o ensino ficou só voltado para elas, voltando novamente a ser algo “engessado” e não condizente com a arte em que vivemos.
Ana Mae Barbosa, através do seu aprendizado com o seu tutor Paulo Freire (que tem uma proposta bem parecida com a Abordagem Triangular, mas não somente voltada para artes e sim para todo o universo de aprendizagem) veio por intermédio dessa nova abordagem, voltar o ensino da arte para a necessidade de hoje.
Hoje, eu compreendo a Abordagem Triangular, mas ainda tenho algumas críticas não fundamentadas sobre essa proposta (sim, o triste é que como vocês repararam nenhum argumento meu é fundamentado).
Na verdade talvez não sejam críticas a abordagem em si, mas como ela foi implementada nos PCNs e como eu acredito que ela não realmente funciona. Pode ser que seja por falta de um PPP nos colégios, mas em geral em uma instituição de ensino pública, como os colégios do estado ou até alguns colégios particulares, há uma enorme rotatividade de professores na área de artes, e eu considero muito estranho não ter nenhuma ordem a ser seguida dentro dos PCNs.
Não creio que uma ordem cronológica de saberes interfira diretamente na liberdade da Abordagem Triangular, pode-se ter um cronograma de conhecimentos a serem adquiridos e mesmo assim podem-se aplicar dentro de um ou vários projetos o fazer artístico, a análise de obras e objetos de arte e a história da arte. Exemplo: se em uma turma de 6º ano deve ser aplicado noção de cores (cor luz, cor pigmento, cor fria, cor quente, disco de cores, mistura de cores e etc) e formas (objetos 2D, 3D, profundidade, luz, sombra e etc), isso não interfere que seja feito um projeto onde se encaixe todos os itens da Proposta Triangular.
Vamos supor que o professor em contato com a turma verificou que a turma gosta de fotografia e acha que é uma tecnológica interessante de ser trabalhada. Ok, então, crie um projeto de fotografia, mostre fotografias de alguns mestres, mostre como ela é hoje na contemporaneidade, mostre trabalhos instigadores como os da Bienal, insira um assunto sobre cor, a falta de cor, o uso da cor ou qualquer coisa, proponha que façam estudos de fotografia com relação a cor, pode-se fazer uma conexão com a comunidade, cores do bairro, cores do colégio, sei lá. Ensine a manipular as cores em um material disponível no colégio e depois peça uma reprodução do próprio trabalho de fotografia, ou de um colega utilizando outro suporte. (Obs.: isso é só um exemplo por alto).
Enfim, o que eu entendo é que ter um cronograma de cada saber da área de artes para cada ano do ensino básico (e infantil), não é retornar o ensino da arte para o que era e nem estagnar ele. Todas as disciplinas que cursamos na vida têm ementas a serem seguidas e nem por isso elas limitam a gente, aliás, tudo na vida precisa de alguma ordem.
“Engessar” ou não o ensino da arte é o professor que define. Eu vi durante meu período de estágio no ensino básico que mesmo diante da Abordagem Triangular (talvez até por se sentirem perdidos) alguns professores a entendem de forma errada, ou talvez queiram entender dessa forma por ser mais fácil e acabam por fazer uma massa de bolo. Fazem projetos que retornam mais a arte-educação a forma que era do que se por algum acaso seguissem algum cronograma. Criam um mesmo projeto inúmeras vezes, só trocando o artista a ser apresentado, tornando assim a aula repetitiva e chata.
Em geral essa “massa de bolo” consiste em: escolhem um artista (Portinari ou Tarsila), apresentar o artista, a vida e as obras, iniciar uma discussão “semiótica” de análise de imagens e por fim fazer uma releitura das imagens. Quando esse projeto termina, escolhem outro artista e começam tudo de novo.
Eu mesma acabei caindo nesse esquema, quando dei minha aula para o ensino infantil, pois a professora pediu que eu fizesse algum projeto que se inserisse dentro do dela, que era sobre Portinari. O projeto anterior ministrado por essa mesma professora, tinha sido sobre a Tarsila, e na releitura do quadro “O Abaporu” pediu que os alunos utilizassem tinta acrílica sob tela e quando os alunos saiam para o recreio pegava tela por tela e pintava o que estava faltando e/ou corrigia o desenho para que ficasse mais parecido com o original.
Essa professora foi formada no mesmo curso que o meu, na mesma Universidade da qual estudo. Ela estava agindo de acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) dentro da Abordagem Triangular. Esse exemplo, é só pra reforçar que, é o professor que faz ou não o ensino da arte ser interessante.
Outra coisa, que eu acredito ser importante é o fazer artístico. O fazer artístico inclui técnica, e técnica tem que ser ensinada. Se o assunto era sobre cor, ensine a misturar as tintas e a pintar o círculo de cores, ensinando os alunos a conhecerem e utilizarem corretamente os materiais (sim eu tenho consciência de que o “correto” em arte é muito vago, mas o que eu quero dizer com essa palavra é que é válido ensinar algumas técnicas de como utilizar o material). Os alunos vão ter dificuldades sim, com o uso e aprendizado de técnicas artísticas, mas como eu já disse anteriormente nesse mesmo texto, artes é um saber como todos os outros, sendo assim, umas pessoas vão ter facilidade em aprender e outras não. Não dá simplesmente para deixar livre para que eles mesmos possam aprender, porque ninguém aprende nada se não tiver alguém que ensine, ou algum lugar do qual possa buscar esse conhecimento. Fico triste, porque em geral, o saber artístico sempre acaba em segundo plano.
Diante disso, talvez a minha crítica em geral não seja a Ana Mae, mas sim a maneira como as instituições de ensino e seus respectivos professores entenderam sua Abordagem Triangular. Fora que essa abordagem comemorou ano passado 25 anos de aplicação nas escolas. Um quarto de século é um tempo grande, acho que talvez seja interessante que algumas coisas fossem revistas ou talvez até só reforçadas da maneira correta.
Por fim, mesmo tendo compreendido os motivos e maneira de ação da Abordagem Triangular, eu, pessoalmente, acho muito complicado colocar isso tudo dentro de um projeto e fazer funcionar, estabelecendo uma divisão igual para cada parte e dando a cada uma sua devida importância. Não creio ser impossível, mas da maneira como vejo o ensino hoje, eu não tenho peito pra encarar. E foi por isso que eu dei uma surtada quanto ao curso, enfim: eu entrei para Artes e me deparei com a Arte (e fiquei realmente louca: Parte II).

Para não finalizar de forma tão triste esta segunda parte, vou dizer que talvez o problema todo tenha sido ter dado aula para o ensino fundamental, pois recentemente no estágio de Prática do Ensino da Arte no Ensino Médio, me deparei com o Ensino Técnico, e acompanhando aulas como “Teoria da Cor e Forma” para uma turma “Modelagem do Vestuário” onde a ementa era toda bonitinha e certinha e eu tinha certeza do que eles precisavam aprender, me senti mais segura e mais feliz. Acredito ter me sentido assim por saber exatamente o que tinha que ensinar e por lidar com pessoas que estavam realmente interessadas em aprender. Fim do capítulo II.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Eu entrei em Artes e me deparei com a Arte : Parte I



Eu sei, esse título é no mínimo estranho. Hehehe Mas fiquem tranquilos, acho que no fim do meu relato ele será compreendido. Já faz tempo que eu tento por em forma de texto o meu relacionamento com a Arte, a Arte-educação e Arte-não-arte (sim, esse último termo não existe, eu inventei.)
O fato é que cada vez que eu tentava por em ordem esses pensamentos, mais eles se desordenavam. Bom, na verdade grande parte deles continua em desordem, porém, em uma discussão em uma aula, eu tive um “click” mental e eu consegui entender um pedaço dessa relação complicada e nem um pouco amorosa que é a minha com o universo artístico.
Penso que talvez tais escritos pareçam como um “memorial descritivo”, só que em um formato não muito acadêmico. Vou dividir o texto em três partes, de acordo com a ordem que coloquei ali em cima (Arte, arte-educação e arte-não-arte). Boa leitura! :P
Bom, para início de relato gostaria de dizer que faço parte de uma família de classe média e nunca sofri muito com influências culturais negativas, tais como tráfico em favela, roubos, música de qualidade ruim (funk) e etc. Sempre achei que vivia numa família de acervo cultural interessante (não entendam isso como racismo, talvez eu só esteja usando a palavra “cultura” erroneamente), principalmente na área musical. Lembro-me de passar minha infância ouvindo Bossa Nova, MPB (do tipo Chibo Buarque, Caetano e etc.), de acordar com música clássica bem alta e coisas do tipo. Lembro-me do meu avô tendo discussões de QI alto com amigos e familiares. Enfim, achava me encontrar num nível cultural bom.
Mas o fato é que, em geral isso não funcionava pra as Artes Plásticas. Não tínhamos o costume de visitar museus, não tínhamos o hábito de falar sobre arte e conhecer a arte. Entretanto,  isso nunca foi um problema pra mim, ou eu achava que não era, até o dia que ingressei na universidade para ao curso de Artes. Durante minha educação no ensino básico, eu também não me aprofundei muito na área. Não me lembro exatamente o que tive de conteúdo em na disciplina de artes.
Apesar de não ter tido contato com o universo artístico em geral, eu sempre gostei da “parte manual” da arte, como desenhar, pintar, recortar, colar e etc.
Quando decidi tentar o curso de Artes Visuais, escolhi quando abri a grade do curso e me encantei com as disciplinas de Desenho, Escultura, Pintura, Fotografia, Cerâmica, Serigrafia dentre outras. Em geral, foram as disciplinas de técnicas manuais que me interessaram, não me liguei na parte que se referia a História da Arte e as disciplinas pedagógicas. Escolhi a licenciatura por dois motivos, o primeiro porque uma pessoa licenciada em Artes Visuais pode fazer tudo o que um Artista bacharel em Plásticas pode fazer e ainda pode aula, sendo que um Artista Plástico pode fazer tudo, mas não pode dar aula. (ok, eu sei que pode, mas ganha menos e acaba tendo que fazer complementação pedagógica depois). E segundo porque eu gostava bastante de estar em frente a um quadro, não tinha medo algum de falar na frente de um público grande (apesar de, em geral, ser uma pessoa tímida e com problemas com comunicação) e achei que por causa disso poderia ser uma boa professora.
Quando ingressei no curso de Artes Visuais foi que eu me dei conta do que era realmente a Arte. Foi aí que deu se deu o início a minha briga eterna contra ela. ( Hehehe). No começo, era só eu e aquele mundo louco que era a arte, o que já era maluco o suficiente pra me deixar doida e revoltada, depois entrou a educação e aí o mundo desabou sobre a minha cabeça (sim, eu sou exagerada e dramática). Mas vamos por partes.
A minha primeira revolta foi pelo fato de Arte ser um universo ridiculamente elitista que pregava o discurso de não ser. Então era tipo assim, eu sou artista, crio uma coisa maluca da minha cabeça, mas que pra mim faz todo sentido (ou não) e exponho isso, para que as outras pessoas tentem descobrir o que é aquilo. Mas eu não digo o que é, e as pessoas ficam lá horas olhando e tentando analisar o que será que é, e tendo reações diversas e sentimentos, e conclusões que nem eu imaginei ter quando criei. Mas não importa, é isso que a arte é, um grande ponto de interrogação, é isso que fomenta a arte, o não ser somente aquilo o que era pra ser, é ser múltipla, é ser transcendental, é ir adiante, é atravessar o que ela mesma era pra ser. Uma doidera só. (:
Então, a arte era aquilo, algo incompreensível e inexplicável, só sentido. E tinha eu, o artista, que criava obras para que elas fossem vistas e sentidas dessa forma. E tinha um público elitista que fazia esse papel de intérprete do que não é pra ser interpretado e UAU, surgia uma auréola na minha cabeça. Eu era esse ser que proporcionava uma coisa inexplicável e que todos amavam por causa disso, e que todos não entendiam, mas compreendiam. E tinha também, esse público leigo que ia num espaço expositivo e olhavam para a minha grande obra de arte instigadora e não entendiam nada, e não sentiam nada e só pensavam “que maluquice do outro mundo é essa? Que cachaça da brava essa moça estava tomando para fazer esse negócio do universo paralelo?”.
Tinha eu, artista, e esses dois públicos. Para o público elitista eu mandava beijos, para o público leigo eu mandava língua. Para o público leigo, eu dizia: “Arte é cultura e cultura é para todos, mas você meu amigo, é muito leigo, não teve influências culturais boas e por isso não entende o que eu faço”.  O que você deve fazer meu amigo ignorante, (que nasceu em berço brasileiro, não viveu a arte europeia, e não faz parte dessa cultura linda), é ir a um museu, olhar para a minha obra de arte e para todas as outras e ficar lá contemplando e tentando entender o que eu quis dizer com isso, porque isso é legal, isso é o certo, isso é arte. Você não pode contestar, não pode falar alto, não pode dizer que não gostou e NÃO, nunca diga que não entendeu.
Arte é cultura e cultura é para todos, mas essa não é pra você. Eu não faço arte pra você e eu não quero que você entenda, afinal, quando eu digo “todos” não é todo mundo. Afinal, a arte é muito acessível, ela está lá e só não entende quem não quer.
Bizarro, arte elitista me revolta. Na minha humilde opinião, esse discurso é falho. Primeiro porque Arte é um conhecimento como todos os outros. Arte é um conhecimento como ciência, matemática, geografia, música e etc. Uns vão se adaptar e outros não. Uns escolhem humanas e outros escolhem exatas. É como se eu fizesse uma exposição de um sistema de qualquer área da engenharia e culpasse os leigos por não entenderem e excluíssem-no.
Segundo porque, a Arte continua elitista porque muitos artistas têm interesses (egocêntricos) de que ela continue assim, para que seu status continue alto. A Arte é elitista, pois antigamente só quem tinha acesso eram realmente os que detinham poder e dinheiro. Com o tempo, foi-se quebrando as barreiras, tudo foi se tornando mais acessível, mas os resquícios ficaram e ideologicamente ela continua elitista.
Outra coisa que eu acho válido destacar também é o fato de que a arte que respiramos veio da arte europeia. Sim, eu entendo que isso é válido, pois éramos colônia de Portugal e tudo era ditado de lá. Temos sim que ter uma base do que é que veio de lá e que nos influenciou a sermos o que somos agora (não só no quesito arte e cultura) mas temos que lembrar que quem nasce no Brasil agora, já não tem mais esse link, já vive num país que é Brasil por si só. País tão grande como esse conquistou sua própria arte, da qual faz parte da nossa cultura e não tem mais lógica alguma se localizar num espaço expositivo tão arcaico com pensamentos tão igualmente arcaicos que alguns artistas têm. Estou generalizando? Sim. Existem muitos artistas novos por aí fazendo arte de rua, instalações públicas? Sim. Mas boa parte ainda está no ar, ou melhor, no céu, num patamar elevado que só é possível ser alcançado por pessoas proporcionalmente elevadas.

E esse foi o meu primeiro e grande choque com o universo da Arte. Eu estava lá, cursando arte e sendo julgada por todos e inclusive por mim mesma, por ser uma pessoa leiga nessa área. E me matando para tentar fazer uma leitura das obras. Tentando entender como com toda certeza do mundo uma pessoa dizia que a arte era para todos sendo que nem todos eram apreciados por ela.
E lá vamos nós ao título do texto: eu entrei para Artes e me deparei com a Arte (e fiquei louca: Parte I). Hoje, depois de vários tapas na cara, eu consigo compreender mais ou menos o que é a arte e como funciona. Mas, me dou o direito de não entender as obras, de não gostar, de não apreciar e etc. E amparada pelo próprio discurso artístico, me sinto segura, pois arte não é pra ser explicada, nem entendida, é pra ser sentida.

Para finalizar, eu li um texto muito legal em um blog de reflexões sobre a arte que achei por aí que critica essa coisa toda de dividir a arte entre Erudita e Popular. É um post pequeno, confiram lá: Arte popular: RECONHECIMENTO OU SAQUE CULTURAL?!? 

Fim da Parte I. Vejo vocês na próxima! o/